sexta-feira, abril 08, 2005

geração de 70... a nova... a minha



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peguei no exemplo dos queijinhos frescos porque acho que é um dos mais representativos. a geração de 70, a nova, está a pouco e pouco a tomar consciência do passar do tempo e a pensar cada vez mais no que ficou para trás, coisa que enquanto se é "novo" não acontece porque os olhos estão vidrados no futuro.

Houve ali uma altura, já não sei bem precisar quando, que sentia uma frustração enorme por não conseguir perceber que raio de alegria saudosista era aquela que os amigos mais velhos - que na altura eram tinham uma importância do tamanho deste mundo e do outro – deixavam transparecer quando falavam dos anos ontem. Ainda não tinha passado tempo suficiente para que sentisse falta do que quer que fosse, estava tudo tão próximo…. E fazia-me especial confusão como é que a indefinição do futuro não lhes parecia mais interessante do que o que já tinham vivido.

Tudo isto foi gradual, mas houve um dia em que parece que abri os olhos. Naquela tarde no café, em vez dos planos para as férias que aí vinham, a conversa desviou para os episódios do verão de há quatro ou cinco anos. E de repente, em todo o lado se fala do dartacão, do tom sawyer, do belle e sebastião, do bocas, do agora escolha, esse mítico programa de todos nós que tínhamos tardes inteiras para passar em casa colados à televisão. E a ana faria e os queijinhos frescos, claro, um ícone sagrado recordado há umas semanas na rtp memória com uma inesquecível entrevista de marco paulo a ana faria. terá sido a cantar aquelas adaptações clássicas às histórias do joão quer ser cowboy, do luís quer ir a paris, do miguel dos olhos de mel, da clarinha olha as pombas, que muitos que agora perdem a noção do tempo a ouvir os franz ferdinand ou os killers experimentaram pela primeira vez a sensação de estar agarrado a um disco, ou não tivessem as crianças essa grande apetência pela repetição. ouvir música cantada por putos como nós, devíamos ter quatro ou cinco ano, tinha na altura uma importância fulcral, porque sentíamos nos sentíamos equiparados aos adultos. era sinal de que conseguíamos fazer tudo como “eles”, mas sempre dentro do nosso próprio mundo, à parte, até com canções à nossa medida. [e o engraçado foi ter dado de caras, quinze anos mais tarde, um dos queijinhos frescos na faculdade]

Tirando isto tivemos ainda os polícias e ladrões, os índios e cowboys, os ministars, os onda choc, a turma do balão mágico, os woodpeckers from space, tudo coisas que ainda guardo em vinyl, seja de 33 ou 45 rotações. Há muito mais, tudo coisas que permitem um verdadeiro regresso ao passado, expressão que me lembra também os incontornáveis programas de domingo à tarde do eterno júlio Isidro [que só a título de curiosidade… vai ao mesmo dentista que eu].

Hoje estamos em condições de ter saudades dos velhos tempos. Voltei a constatar isso outro dia numa entrevista da rita ferro rodrigues ao rui unas num encontro marcado na sic mulher. Metade da entrevista foi ocupada com recordações deste tipo, com saudades do passado, com pena de que os nossos filhos não vão viver as coisas da mesma maneira que nós as vivemos. E foi durante aquela hora que percebi que por mais ano menos ano que nos separe houve coisas que marcaram a nossa geração num todo. Todos temos saudades de chegar da escola e ir brincar para a rua até à hora de jantar, altura em que os pais vinham à janela gritar pelos filhos. Todos jogámos às escondidas atrás dos carros; andámos de patins debaixo das arcadas contra a vontade das porteiras porque riscávamos o chão todo, mas ali o piso era mais liso; todos fizemos corridas de bicicleta na praceta depois de jantar, sem capacete nem protecções de qualquer tipo. E é por isso que hoje todos temos os joelhos cheios de pequenas cicatrizes, resultantes das quedas sucessivas no alcatrão. E depois do curativo feito lá íamos nós outra vez, e mesmo que as feridas nos doessem até aos ossos ninguém se queixava porque de outra maneira os pais não nos deixavam voltar a pegar na bicicleta naquele instante. E um instante naquela altura tinha a dimensão de uma eternidade.

Hoje já há distância suficiente para perceber o que era afinal aquela intrigante alegria saudosista. Já passou tempo suficiente para ter saudades de certas coisas que ficaram para trás e já houve vivência suficiente para perceber que afinal o futuro nem sempre é como nós o imaginámos. Mas continua tudo tão próximo….. a geração de 70, a nova, está aí em força, para dar continuidade à obra do pessoal com quem aprendeu tudo o que sabe.


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