a bobina foi passar o natal ao campo. foi a segunda vez que esteve no refúgio da família, onde até há bem pouco tempo nem os telemóveis lá chegavam. da primeira vez, fez a habitual vistoria de cão que pisa pela primeira vez território novo, mas não se esticou muito para fora de pé. a confiança talvez ainda não fosse suficiente para se esticar nas braçadas pelos campos fora.
desta vez, foi dona e senhora dos terrenos dos (bis)avós, bem como dos dos vizinhos, com ou sem autorização, que isso para cão que é cão que gosta de correr e saltar em liberdade é apenas um pormenor que a dona se encarregará com certeza de resolver. e assim foi.
dente os inúmeros episódios que marcaram os últimos dias da bobina e, sobretudo, dos meus avós, o destaque foi para as duas quase-fugas da cadela a quem a avó glória insiste em chamar "princesa", diz ela "porque bobina não é um nome suficientemente carinhoso para chamar a uma cadela tão linda e tão querida".
o susto maior aconteceu na véspera de natal de manhã. depois do banho-sauna que nos permite armazenar calor para enfrentar o frio do interior do país, chego cá fora ao quintal, onde a bobina supostamente estaria a farejar tudo e mais alguma coisa. chamo por ela e nada. volto a chamar, em tom mais alto e assertivo, e ainda assim nada de bobina. munida de uma calma estonteante, que fui buscar à medalha que ela traz ao pescoço com nome e número e telefone, fiz-me à estrada, que é como quem diz, fui barreira acima confiante de que veria facilmente a cadela aos saltos lá para cima. terrenos desertos, nada mais à vista.
tenho para mim, que nos momentos seguintes toda a freguesia ouviu o eco dos meus apelos: bobiiiiiiiiinaaaaaaaaaaaa (nada de estranhar se tivermos em conta que para aqueles lados, apenas se ouvem os sinos da igreja vizinha, o ladrar dos cães e os badalos das cabras, vá lá, e um outro carro esporadicamente). fui de terreno em terreno, tentando pensar como a bobina, e cheguei à conclusão que a fera teria ido longe, mas não tão longe quanto possível, porque no fundo no fundo ela é mariquinhas e queria ser encontrada a tempo do jantar. parei entao num local estratégico e durante 10 minutos, que me pareceram 10 dias, gritei bobiiiiinaaaaaaaa com toda a convicção que me foi possível.
quando lhe apeteceu, e só quando se cansou, a cadela veio ter comigo como se nada fosse, coberta de terra no focinho e nas patas, feliz da vida, como se tivesse ganho o jogo das escondidas à dona, que andou às cegas campos fora até a menina de quatro patas achar que já chegava de sofrimento. o jogo terminou com uma palmada e dois berros que a levaram a correr a alta velocidade até casa, não sem antes ir dar mais um saltinhos ao terreno dos vizinhos, "mas rapidamente que pode ser que ninguém me veja", deverá ela pensar.
ve-la a saltar aqueles muros de pedras que separam os terrenos como quem salta os 100m metros barreiras com uma perna às costas valeu os sustos. aqui está ela agora, sã e salva, na cama dela, a pôr em dia o sono que trouxe em falta das férias de natal.
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