acho engraçado como é preciso chegar ao extremo para perceber que já há muito lá tínhamos chegado. e percebemos depois que já toda a gente o tinha visto menos nós. pior, fomos avisados pelo caminho um sem número de vezes, sem que tivéssemos dado conta sequer duma. passei muito tempo empenhada em construir não sei bem o quê, mas que na altura achava que era o que me fazia falta para ser o que queria ser. e assim andei, tão empenhada em tratar da minha vida, que durante aquele tempo acabei por me esquecer de a viver como sabia que queria. claro que para o perceber foram precisos uns quantos choques eléctricos. analiso hoje tudo a uma fria distância de alguns anos. o que mais me assusta ao olhar para trás é a simples hipótese de voltar a deixar de ter tempo para mim por motivos que não o justificam. mais, deixar de voltar a sentir-me bem com a antes assustadora actividade do "não fazer nada". a cabeça pedia-o há muito tempo. e ao mesmo tempo evitava-o a todo o custo. desculpas, atrás de desculpas. e agora parece que nisso os hemisférios chegaram a um acordo, pelo menos durante uma hora por dia. fazer coisas tão úteis e lucrativas como sentir o vento na cara, andar a pé sem destino, ler num banco ao sol, ouvir música na relva, cinema ao fim de tarde, conversas de café, escrever qualquer coisa. fazer qualquer coisa. e de tudo isto é feito o meu e tão importante "não fazer nada".
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